Sunday Oct 20, 2024

Carolina X

Apelido “X”, porque não sobra rastro da linhagem. Apelido “X” para rasurar o prefixo “preta”, que vem sempre primeiro que o nome próprio. Chegamos a ela, na verdade a elas, às centenárias Carolina e Maria Teodora Doutora, através de jornais que davam conta do seu falecimento, 1943 e 1920 respetivamente. Ambas, seriam as “últimas” escravizadas em Lisboa?

Quem é ela que pousa de pé, descalça, em plena Av. da Liberdade para o fotógrafo Charles Chusseau-Flavies, com o peito cheio de rosários, como quem usa uma extensa fiada de amuletos? Quem são elas, e tantas outras, que como elas, foram descartadas pelas “senhoras” e pelos “senhores”, depois de velhas, por falta de serventia, e largadas ao abandono nas ruas de Lisboa? “X” de incógnita. “X” de encruzilhada. “X” de marco que não é possível esquecer, apesar do silêncio. “X” de incisão, por onde se precipita o romper das coisas.

 

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Surname “X”, because there is no trace of the lineage. Surname “X” to erase the prefix “Black” which always comes first than the first name. We got to her, in fact to them, to the centennial Carolina and Maria Teodora Doutora, through newspapers that gave account of their passing, in 1943 and 1920 respectively. Were they, both of them, the “last” enslaved people in Lisbon?

Who is she who poses, standing barefoot in Avenida da Liberdade, for photographer Charles Chusseau-Flaviens, with her chest filled with rosaries, as if she wears a lengthy row of amulets? Who are they, and so many others like them, who have been discarded by the “ladies” and “gentlemen,” for being aged, for not being useful anymore, and abandoned on the streets of Lisbon? “X” of unknown. “X” of crossroads. “X” of a milestone that is not possible to forget, despite the silence. “X” of incision, where the rupture of things is precipitated.

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Version: 20241125